19 de mar. de 2010

Champagne, ou, como se tornar um alcoólatra em grande estilo. Parte 1.



Desculpem-me aqueles que possam se sentir ofendidos pela chamada – de senso de humor um tanto quanto duvidoso deste post. O fato é que sou, em primero lugar muito verdadeiro e em segundo, politicamente bem incorreto. E que atire a primeira pedra o sóbrio que nunca se sentiu seduzido pelos sonhos das borbulhas insistentes e cintilantes de Champagne – ou a MECA, como costumo me referir.

Ano passado estive lá pela primeira vez. Depois de ter encarado os 42 km da Maratona de Paris, precisava urgentemente recuperar calorias perdidas e me mereci um presente. Aliás, vários.
E foi assim que eu, Fabi minha mulher, Camila e André (meus cunhadinhos que nos visitavam de Londres! ), partimos em caravana etílica rumo aos segredos dessa área que mais parece uma meia-lua de calcário, rica em minerais, em fósseis e nas bolhas mais caras do mundo: Champagne.

Há pouco mais de 1H30 de Paris, a região estende-se 150km de norte a sul e 115km de leste a oeste. AOC (Appelation d'Origine Contrôlée) desde 1927, Champagne conta com mais de 100 maisons e quase 20 mil pequenos produtores.

Em Reims (pronuncia-se [rãns]) nos decepcionamos um pouco na chegada. Apesar de saber que o grande tour pra Champagne acontece nas visitas às maisons produtoras, achávamos que a oferta em taças de diferentes tipos e marcas, seria farta nos cafés e bistrôs locais. Isso não acontece. Esqueça a idéia de que vai pagar mais barato por uma champagne em Champagne. Encontrei preços mais baixos no DutyFree de Heathrow em Londres do que lá!

Valeu entretanto a visita ao Café du Palais. Totalmente por acaso e sem saber que estávamos entrando num dos estabelecimentos mais famosos de Reims, tivemos uma das melhores experiências gastronômicas da cidade. Isso porque o local é ponto de encontro, funcionando em frente ao Grand Theátre desde 1930. Ao invés de atacarmos a variada carta de champagne em taças que ofereciam, acatamos a sugestão do simpático mâitre que sugeriu uma garrafa da casa, a champagne Café du Palais:
"–Produzida aqui mesmo nas montanhas de Reims", acrescentou. O comentário foi desnecessário. Ele já tinha nos convencido de cara no "–Bonjour!". E lá se foram horas e horas e a vida de 3 garrafas.


Vista do Café du Palais.

Em Reims até a água da torneira parace ter um quê mais saboroso, seja efeito placebo ou não, psicologicamente ficamos inevitavelmente abalados com o lugar e com uma estranha sede que não passa nunca. Não fomos à Champagne pra ficar tomando os rótulos que possam ser encontrados facilmente em qualquer supermercado. Fomos em busca dos segredos locais. As pequenas casas de produtores que pudessem esconder pérolas inacessíveis. Fomos em busca da champagne perdida.
Mas num erro clássico de logística – era páscoa e várias casas estavam fechadas – tivemos que dar o braço a torcer às marcas mais famosas e encarar caves e degustações de rótulos bem conhecidos. Não foi nenhum esforço, confesso. E ainda conseguimos memórias épicas para nossas papilas gustativas.

Na Veuve Clicquot Ponsardin começamos claro, pela Veuve Clicquot Brut de rótulo amarelo. Confesso que sempre tive essa champagne como a minha preferida dentro da linha das "mais baratas". Uma daquelas "não tem como errar / mais do que honestas". Feita somente com Premiers Crus e Grands Crus (veja abaixo a tabela explicativa), tem de 50-55% de Pinot Noir, 15-20% de Pinot Meunier e 28-33% de Chardonnay. Até 40% do blend da garrafa é feita com vinhos de reserva, que chegam a envelhecer por até 20 anos. O resultado são mais de 230 anos de sucesso.


A Veuve Clicquot Brut carte jeune.

A grande atração estava por vir. La Grande Dame Brut 1998.
Para mim, a melhor champagne que já provei até hoje – e não que isso seja de algum gabarito – mas acreditem, a coisa é seríssima. Primeiro, a grande dama só é feita com Grands Crus e são todas Vintages, ou seja, produzidas somente em anos considerados espetaculares para as uvas. Sua composição leva somente Pinot Noir (64%) e Chadornnay (34%) e envelhecem nas crayéres de giz por pelo menos 8 anos. Aveludada, com os mofos presentes, encorpada e de cor intensa dourada. Uma obra prima, que tivemos a chance de degustar. Foram somente 2 taças compradas e divididas entre 4 pessoas. Sem dúvida, a melhor meia-taça de champagne que já tomei na vida.


La Grande Dame. Sem palavras.


Detalhe da La Grande Dame. Degustação épica.

Próximos posts:
Pommery e sua Louise, visita à Épernay, Moët et Chandon e um jantar num restaurante 1 estrela Michelin. Os champagnes intragáveis (sim, eles existem e eu os vi!). Aÿ e Hauteville, regiões dos Grands e Premiers Crus. Enfim, luxúria, gula e mais um monte de pecado capital!

What thafuck?
As uvas dos vinhedos são classificadas de acordo com qualidade e preços alcançados.
Premier Cru: top, só vinhedos classificados entre 90% e 99%;
Grand Cru: o top do top, só vinhedos classificados a 100%.

What thafuck?
Brut, extra-brut e baratos afins: têm a ver com a quantidade de açucar.
Brut Nature (Brut Zero): menos de 3g/l (apenas resíduo da uva);
Extra-brut: 3 - 6g/l;
Brut: 6-15g/l;
Extra-sec: 15-20g/l;
Sec: 20 - 35g/l;
Demi-sec: 35-50g/l;
Doux: +50g/l.

Serviço:
Veuve Clicquot Brut
Nota: 9

La Grande Dame Brut 1998
Nota: 10

Café du Palais (Reims)
Nota: 8,5
www.cafedupalais.fr

*crédito das imagens: Veuve Clicquot Ponsardin.

Um comentário:

  1. Quero muito ir para champagne. Adorei as dicas.
    Vc sabe se dá pra fazer todo o tour de trem?!

    Abs!
    Carla Junqueira

    ResponderExcluir

Obrigado pela participação! Deixe sua receita de como melhorar o MalPassado!