5 de mar. de 2010
O pão nosso de cada dia
Antigamente as pessoas não compravam tanto. Elas mesmas faziam suas coisas. Era comum se ter costureira, alfaiate, criar galinhas em casa pra se ter ovos. Os maridos eram handymen e faziam de tudo um pouco, levantando paredes no quintal, cultivando hortas, fazendo até alguns móveis pra casa. Hoje em dia eu sei que isso é difícil. Eu mesmo não tenho tempo pra mexer em casa e pra fazer tantas coisas como eu gostaria, mas eu tenho uma inclinação pra isso. Não pra costureiro, ...mas pra instalar uma luminária eu dou pro gasto. Acho triste quem não sabe lidar com uma furadeira e colocar uma bucha 5 pra pendurar um quadro. Mas estou divagando e o assunto não é esse. Queria mesmo falar da minha avó. "Vó" Maria e do seu Pão Caseiro.
Ela era a responsável pela economia da família. Meu avô desempregado, meu pai trabalhando em dobro pra manter a casa e ajudar a sustentar seus 3 irmãos.
Situação tava feia e ela fazia o que podia pra alimentar a família. Isso incluia duas receitas básicas: polenta e pão – com a maioria dos ingredientes comprados a fiado na mercearia da esquina. Nunca vi a Dona Maria comprar pão, durante os curtos 17 anos que compartilhamos nossa existência. Seria um grande insulto pra ela. Seria como que assinar um atestado de incompetência doméstica perante o resto da família, os vizinhos, os amigos. Fazer pão era parte do currículo mínimo que se esperava de uma dona de casa nos idos dos anos 70 e 80. O fato é que a receita do famoso pão da Dona Maria, que nem sei de onde veio, mas que lembro bem, era a festa dos netos nas tardes de domingo, regadas a truco, café e vinho de laranja. Não necessariamente neste ordem.
Em 1995, quando saí de casa pra morar sozinho aos 21 anos de idade, ganhei a receita de meu pai, escrita à mão num papel de pão. Como se ele me desse o mapa da mina. A receita que poderia me salvar em tempos difíceis, de vacas magras. Lá se vão 15 anos e sempre me mantive fiel à receita original. Hora ou outra, incremento um pouco, acrescento ervas, novos ingredientes. Mas o que vale mesmo, é que a base é sólida, robusta. Pão caseiro de verdade, consistente, parrudo. Totalmente caseiro. O pão da Dona Maria.
Ingredientes
1 tablete de fermento biológico fresco de 15g (ou seco de 30g)
1 colher de açúcar
1/2 colher de sal
3 colheres de óleo (...eu substituo por azeite!)
1 colher de manteiga
1 ovo
1/2 copo de água morna
Farinha até dar ponto (...geralmente uns 750g de farinha já satisfazem!)
Misture o fermento com o açúcar.
Agregue a água e os outros ingredientes.
Mexa até dar ponto (....massa não deve grudar e ao mesmo tempo não deve ficar muito seca).
O importante é sovar a massa por pelo menos 15 minutos. Quanto mais mexer a massa mais aerada vai ficar e mais o pão vai crescer. Ao término, retirar um uma pequena bolinha de massa de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro e colocar num copo com água. Esse é o medidor do tempo de crescimento da massa.
Colocar a massa no formato desejado numa forma untada. Faça uns cortes na superfície da massa, paralelos. Isso vai impedir que o pão rache enquanto cresce e assa no forno. Cobrir com pano de prato. Não mexer até a bolinha que está no copo com água, subir à superfície e boiar. Isso mostra que o fermento já trabalhou e sua massa aerou. Isso pode variar de acordo com a temperatura ambiente. Tempo quente uns 30 minutos, tempo frio pode chegar a 1:30 h.
A bolinha de massa subiu, seu pão está pronto pra entrar no forno e assar. Temperatura média de 180ºC, entre 40 minutos e 1 hora.
Nessa receita que apresento aqui foram adicionados ingredientes extras. Desde que compramos um Juycer Walitta aqui em casa, estamos obstinados a dar uma função mais nobre que o lixo, às fibras que sobram das frutas quando fazemos os sucos. Depois de alguns estudos, voilá, passamos a incorporar as fibras que sobram de cenoura, beterraba, maça, uva e pêssego, na massa do pão. Isso resulta numa quantidade menor de farinha e numa cor amarelada, avermelhada e uma riquesa de fibras na massa.
Dicas bacanas:
1. Pão que se preze é guardado num saco de pano pra respirar e não ficar seco. Portanto esqueça ziplocs, tupperwares e afins. Prepare um saco de pano oldschool para guardar sua obra-prima;
2. Junto com a massa no forno para assar, inclua uma xícara com água. Isso vai manter a humidade do forno mais alta e seu pão mais macio.
É isso. Bom proveito!
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Adorei visitar seu blog....
ResponderExcluirInteressante, descontraído,e extremamente educativo!
Sou confeiteria por profissão e paixão,mas
Amo... todo tipo de culinária!
Valeu a receita deste (apetitoso) pão...
Voltarei sempre!
bjs....doces!
Oi Andrei, não conhecia o seu blog, muito original, ....mas esse pão eu lembro bem....deu agua na boca...e lembranças maravilhosas....vou tentar fazer.... Bjos, emily
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